segunda-feira, 12 de setembro de 2016

sobre aprender a nadar

é engraçado quando a gente vai ficando velho e todas as imaginações de curtição de quando eramos mais novos vão se desfazendo linha após linha. pelo menos hoje eu posso dizer que minha droga não é mais você, nem as ceias que tua mãe servia dia após dia pra um pé rapado de barriga vazia. hoje eu só falo isso porque acredito mais na astrologia e menos no destino, e ela me disse que aquário não ama ninguém.

minha mãe seria uma puta astróloga. sabe minha data de nascimento, sabe que não vou conseguir.

recife não é mais um luxo, apenas talvez uma cidade de putas de luxo. todo mundo vai pra lá em me joga na cara os souvenirs da nossa empreitada. as ressacas sozinhos são mais divertidas e já não me maltratam como faziam em janeiro, que até hoje foi o pior dos meses, mas em breve não será.

recife é só moda. uma ex-cidade que não está ali naquela hora.

sempre me dei bem no mar (e no bar) porque nunca pensei que ia me afogar. cada vez nadando mais e mais longe, até as pessoas da praia não serem nada perto das ondas que me carregavam contra o teu fluxo frouxo, que hora batia hora não. o mar não, o mar sempre bate, sempre uma nova chance de me apegar. uma vibração colossal, que só perde pra um vibrador. um vibrador banal.

a minha vibração é um porre de aguentar.

minha casa é melhor que qualquer recife, qualquer coral. minha casa é uma água viva, uma coisa abstrata que todo mundo olha como uma mão que maltrata. e eu maltrato mesmo. aqui não tem sacada, mas no meu quarto há sempre duas toalhas penduradas. onde eu nem sei mais qual é a minha, onde os gatos se oferecem pra dormir em pernas regadas, e as mordem como se fossem sardinhas.

eu maltrato tu maltratas, mas agora isso não mata.

as pessoas estão aí, como as toalhas na minha porta. de tempo em tempo se troca. não como coisas, mas como subterfúgios, é isso, subterfúgios, que terminam de tirar do seu corpo o que carrega teu espírito, e você pendura na porta pra travar tudo o que é indesejado, e ao final do dia usa-las e pendura-las mais uma vez.

hoje eu saio e não tenho hora pra voltar. acho que essa tem sido a parte mais difícil. meus amigos já não me dão crédito, voltam pro prédio, dormem, e só no outro dia me escutam chegar.

as gauches chegam e se agacham no chão.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

exposição de manequim sem cabeça

mais uma vez eu não resisti e usei mão das minhas estratégias baixas que consistem em andar pelas ruas fazendo um esforço mental pro universo conspirar e te colocar na minha frente, nem que seja como um manequim pra ser admirado.

por falar em manequim a estratégia deu certo, mas só deu certo porque eu imagino fazer uma exposição com fotos de pessoas sem cabeça pra poder te convidar pro lançamento. me agachei pra fazer a foto e duas quadras pra frente você subia cansada do trabalho e escutando alguma música do seu ótimo gosto musical que eu ajudei a cultivar. pensei: pronto, ta aí o motivo da minha exposição. o motivo de todas as exposições que eu pretendo ver na vida.

eu já não tive tanta certeza se no seu fone de ouvido tocava Pink Floyd ou não. confesso que às vezes gosto e as vezes não. mas lembro muito bem de uma época que eu gostava e nós viajamos e no ônibus da volta você pediu um foninho e eu cedi o R e fiquei com o L. R de reprovado. não gostou da música e decidiu dormir. L de virei pro outro lado decepcionado. pelo menos quando foi ao vivo nos beijamos mais uma vez e isso te fez gostar de Pink Floyd até o final da tua vida que eu sei. R do lado direito que eu andava no seu carro enquanto o L do esquerdo era de love que vivemos dentro do toyota amassado da sua família fazendo a nossa playlist de visita em qualquer carrinho de lanche das madrugadas.

juro pra mim mesmo que não sei se vou continuar conspirando com o universo ao meu favor pra ele te colocar em situações que ainda não sei se você quer viver. hoje pareceu que sim. amanhã parece que não. mas depois de amanhã quem sabe.

tenho medo do caminho que estamos tomando pra ir pras nossas casas que pode muito bem te colocar em dois tipos de apuros e por isso eu peço pra você ter cuidado quando sair do trabalho até chegar em casa. só não peço pra me avisar se chegou bem pois nem esse direito eu tenho mais.

mas hoje você descobriu coisas novas da minha vida e eu descobri que ainda podemos conversar e tentar nos despedir totalmente sem jeito e por isso dar quatro, veja bem, quatro abraços e beijos na bochecha de despedida como alguém que jamais deveria ter se despedido e sabe muito bem disso.


sábado, 2 de janeiro de 2016

enquanto estivermos juntos

enquanto eu existir
não dará certo
a menor
tentativa

enquanto eu for eu
você vai me querer
sem nenhum
merecer

enquanto a vida te pune
por seguir o coração
tudo o que tentas
é em vão

enquanto o cigarro queima
meu coração arde
de paixão?

enquanto seu peso
caía sobre mim
minha cama
teu reino

enquanto eras minha
rainha
quis revolução

enquanto eu for de aquário
a penitencia permanece
e se eu não nascer de novo

que eu me foda então.